domingo, 21 de outubro de 2007

O churrasco


Capa do DVD em questão

Domingo passado teve um churrasco aqui em casa pra comemorar o sucesso de uma cirurgia recém-realizada por minha mãe (ela, coitada, retirou o útero). Marcaram presença: eu, minha tia Rosa, minha avó Aracy, meu avô Samuel, meu pai, minha mãe e meus primos Lucas, Naná e Felipe, todos por parte de mãe.

Minha tia Rosa, fervida como é, trouxe de casa alguns DVDs de música ao vivo, pra animar o ambiente enquanto a carne assava, o tempo passava e eu me embriagava. Entre as novidades, o DVD do Barão Vermelho tocando ao vivo no Rock in Rio 1, em 1985. “É o mesmo que estão anunciando na TV”, ferveu ela.

Nunca imaginei que Rosemary Maria, a fervida, teria esse tipo de gosto musical (assim como ela nunca deve ter imaginado que eu também o tivesse). De qualquer forma, botamos o disco pra rodar e, enquanto ele rodava, minha tia foi falando. Disse que, em 1985, ela tinha 18 anos e fervia pencas ao som daquelas músicas; contou que, naquele tempo, todo mundo usava aquelas roupas e que o povo era mesmo muito doido.

De fato, aquela era uma época bem especial para o Brasil. Na mesma data do show do Barão Vermelho que está no DVD 15 de janeiro de 1985 Tancredo Neves foi eleito presidente, com a promessa de redemocratizar o país após 21 anos de governo militar.

Sem censura, 85 mil pessoas se jogaram na lama da Cidade do Rock, feliz da vida por acreditar ser possível viver em um país menos careta. "Que o dia nasça lindo para todo mundo amanhã. Um Brasil novo, com uma rapaziada esperta", ferveu Cazuza, ao final do espetáculo, depois de "Pro Dia Nascer Feliz".

O repertório do show traz o melhor do Barão Vermelho em seus 3 primeiros discos. São 13 músicas, entre as quais: "Milagres", "Down em Mim", "Bete Balanço", "Todo Amor que Houver Nessa Vida" e a bela "Mal Nenhum", parceria entre Lobão e Cazuza, até então inédita . Nos extras, entrevistas com os bastidores do show e um clipe com “Um Dia na Vida”, extraído da segunda apresentação da banda no Rock in Rio 1, em 20 de janeiro de 1985.

No YouTube, tem a performance de “Menina Mimada”, com comentários de Nelson Motta, exibida na TV à época. Tem também uma reportagem feita por Glória Maria, ao vivo, no Jornal Nacional, enquanto a banda tocava "Sem Vergonha". Abaixo, Cazuza em entrevista fervida à Leila Cordeiro, logo após o show.


Ah! O DVD não fez muito sucesso no churrasco que rolou aqui em casa, não. Deve ter sido falta de identificação com o público do evento. Não sem protesto, foi substituído pelo acústico do Bruno e Marrone, bem mais condizente com a ocasião.


XD

sábado, 20 de outubro de 2007

A importância de se chamar Jorge



De cima para baixo: Lafond, Seu, São, Ben, Luiz da Silva e Luiz da Silva Júnior, só para citar alguns exemplos

Fazenda Buracada, zona rural do município de Natividade, estado do Rio de Janeiro. No final da década de 1940, a lavradora Júlia Maria da Silva conheceu o também lavrador Pedro Luiz da Silva. Namoraram por alguns meses, até que veio dele uma proposta de amor, que falava em casamento. Júlia respondeu que iria pensar, numa boa: “Não se dá um sim, assim, à toa", citando Tom Zé.

Passadas semanas, pedido feito... pedido aceito. Já na primeira noite – talvez segunda – duas crianças foram inventadas ali mesmo. No chão da cozinha, na esteira da sala, num canto do quarto. Menino e menina os fizeram. Gêmeos, ainda por cima.

A saúde de Júlia nunca foi de ferro. Na velhice, era a tal pneumonia, diziam. A tosse lhe causaria sérios problemas. Mas, por enquanto, bastava um pré-natal – que não havia. A gravidez se complicou, mas as crianças nasceram (e morreram logo em seguida).

Coitada de dona Júlia, era a primeira gravidez. A segunda veio em 1953. Nascendo-lhe um filho varão, olhou para o céu e fez pose de promessa – se lhe fosse concedida a graça de vingar esta criança, daria-lhe o nome de Jorge, em homenagem ao santo e guerreiro.

Assim, nasceu meu pai, batizado Jorge Luiz da Silva, desconfiado até da própria sombra. Ao nascer-me-eu, batizou-me júnior dele mesmo, Jorge Luiz da Silva Júnior. Como se, naquele momento, incubisse-me a tarefa de usar capa e espada para derrotar dragões caminho a fora – destino daqueles que nasceram para ser Jorge na vida. Salve, Jorge.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Para início de conversa


Foucault é tendência

Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, e querendo tornar conhecidos os motivos que me levaram a esta ação, escrevi toda a vida que meu pai e minha mãe levaram juntos durante seu casamento.

Fui testemunha da maior parte dos fatos que estão escritos no fim desta história (no que se refere ao princípio, ouvi meu pai contar, quando falava disso com seus amigos e também com sua mãe, comigo e com os que disso tinham conhecimento).Em seguida, direi como decidi cometer esse crime, o que eu pensava então, e qual era minha intenção, direi também qual era a vida que levava entre as pessoas, direi o que se passou no meu espírito depois de cometer esta ação, a vida que levei e os lugares por onde passei desde o crime até minha prisão, e quais foram as resoluções que tomei.

Toda essa obra será escrita em estilo muito grosseiro, já que sei apenas ler e escrever; mas, contanto que se compreenda o que quero dizer, é tudo o que peço, e redigi tudo da melhor maneira possível, ok?

;-)